De norte a sul de Moçambique não há mulher que não use a capulana para se
vestir, para limpar e embrulhar as crianças e as amarrar às costas, é também
usa-las como toalha, cortina, almofadas. Ou na mudança de casa e em viagem,
como embrulho da trouxa. A capulana não é para uso exclusivo das camponesas,
como se possa pensar, as mulheres urbanas usam-na em certas cerimónias
familiares e sobretudo com cores vibrantes. Mulheres e raparigas cobertas com
estes panos coloridos dão vida e cor às estradas de terra que cortam a paisagem
monótona da savana ou às ruas e mercados das cidades africanas.
A origem da Capulana
As mulheres começaram a comprar lenços de tecido de algodão estampados e
coloridos, trazidos pelos mercadores portugueses do Oriente.
Em vez de comprar um a um, mandavam cortar seis quadrados de uma vez, dividiam este pano ao meio e coziam o lado mais comprido fazendo uma "capulana".
Em vez de comprar um a um, mandavam cortar seis quadrados de uma vez, dividiam este pano ao meio e coziam o lado mais comprido fazendo uma "capulana".
Depois era só
envolver o corpo, amarrar com estilo e a moda impunha-se à medida
que cada vez mais mulheres faziam o mesmo. Claro que os comerciantes não
tardaram em encomendar mais aos fabricantes na Índia, não apenas "lenços"
mas panos com a largura e o comprimento que as mulheres pretendiam. Nos nossos
dias os motivos são cada vez mais ao gosto africano.
A capulana é mulher, é vida, elas são cheias de histórias para recordar…
Guardadas nos baús, as capulanas são o símbolo da riqueza que uma mulher
possui. Foram-lhe oferecidas pelo homem que as cortejou, o marido que as amou,
o filho quando regressou das minas do Transvaal, o genro que lhe quer a filha.
A dona não as usa, guarda-as, entesoura-as. Só uma ocasião muito especial as
fará sair à luz do dia. E quando a dona
morrer elas passarão como herança para as descendentes suficientemente
afortunadas para serem contempladas com elas.
Mas a avó, em dia de boa
disposição, pode chamar a neta para lhe mostrar as capulanas guardadas e
falar-lhe do passado. A capulana, aqui, é documento histórico que conta os
acontecimentos passados.. Cada capulana "fala" desse acontecimento social ou histórico.
A avó certamente não tem toda a história passada no seu baú, mas tem capulanas
bastantes para relembrar à neta coisas antigas de que elas são os
"documentos". A chegada de uma nova geração trouxe as capulana às lojas e o comerciante apressa-se a apresentar o novo padrão às primeiras
clientes. São oferecidas como presente a mãe, filhas e noras, amigas ou
vizinhas. Note-se que nem sempre a capulana se refere a um acontecimento
histórico ou de âmbito social à escala nacional. Hoje em dia elas fazem parta
da vida da mulher e são usadas das mais diversas formas possíveis, inclusive já estão presentes na alta costura.
As capulanas também são usadas em rituais e cerimónias, a viúva usa uma capulana sobre a cabeça e o rosto para
"cobrir o choro" e também é usada como coberta nupcial. . As capulanas em apenas duas ou três cores, por
exemplo azul escuro como cor de fundo, com motivos pequenos e delicados em
branco, estiveram muito em voga nos anos 60 e estão a regressar. As mulheres usam várias
capulanas sobrepostas e lenços ou outras capulanas na cabeça, artisticamente
armados em toucado, com cores e padrões perfeitamente combinados. Nas cidades
costeiras e na Ilha, brincos e colares de prata, arte dos
joalheiros locais, são complemento que empresta luxo e opulência às capulanas
de algodão, estampadas ou tecidas, além de outros acessórios feito de capulanas como: sapatos, bolsas, braceletes, enfeites para cabelo e tantos artesanato que embelezam a mulher com o seu colorido único e alegre.
Texto extraído do livro Capulanas & Lenços, publicado pela Missang
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